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Artista visual, marginal, transgressor, despirocado. Ralf surgiu a partir do desejo e exploração dos prazeres de seu mestre, em um período de muita contenção e inibição sexual. Naquele tempo, as nudes ainda não eram tão difundidas e populares como nos dias de hoje. 

Ralf, um jovem twink, no alvorecer de sua adolescência, começa a explorar seu corpo. Foi na aula de natação, quando se deparou com seus colegas de sala, pelados, brincando com uma bolinha de pula-pula, parou a observar. Uma explosão de pirus subindo e descendo, alegres e saltitantes, manifestando uma reação instantânea em sua sunga, tendo imediatamente que se cobrir com uma toalha. Aquilo não o conteve, pelo contrário, aguçou sua curiosidade em buscas de novas aventuras. Até que o descobriram.

Um amiguinho hétero escondeu suas roupas. Pelado e diante de todos os seus colegas, sentiu-se constrangido e excitado, ao mesmo tempo. Todos riam da situação, até o valentão mostrar como faz. Ele devolveria seus pertences, em troca de favores. Ralf fora batizado pela gangue.

Em seus diários, começou a narrar situações reais e fantasiosas que lhe despertavam desejos. Era sobre um cantor surfista, um personagem de anime pelado, uma cena de filme do Leonardo DiCaprio. Roubava páginas da Capricho de sua prima, comprava G Magazine no sebo, criava histórias em quadrinhos, enaltecia a atração por pés. Tudo virava uma composição de colagens, desenhos e relatos, que o fogo acabara por manter em segredo.

Com a Internet, descobriu a arte do yaoi, na qual o fez sentir-se mais normal do que qualquer outra pessoa. Descobriu também o naturismo e o CMNM (Clothed Male, Nude Male*), uma prática exibicionista da qual se identificava. Além disso, encontrava acolhimento nos encantos das salas de Bate-papo do Uol, com todas as suas surpresas, mistérios e possibilidades que ali habitavam. Com o Google e o extinto Cadê, ficava mais fácil de encontrar as imagens dos ídolos e sites dedicados ao prazer individual. 

Foi no Manhunt, site de relacionamento global (que nos dias de hoje se assemelha a um Grindr), que o Nitro, ou melhor, Ralf Nitro surgiu. É lá que, com a possibilidade de postar nudes, Ralf recebia galanteios de usuários, por conta de suas poses de ninfeto.

Anos se passaram, Ralf ficara adormecido. Até que, em 2014, seu mestre se interessou por aquarelas. Inexplicavelmente, os primeiros trabalhos continham um teor erótico. Não era como os desenhos feitos nos antigos diários, mas, enfim, arte. Ralf desejava voltar. Só que seu mestre receava, não liberando-o por completo. Ralf ressurge como um príncipe (Ralf Prince, ou um "Half" Prince, se é que me entendem), numa tentativa de expor apenas o lado do que uma vez foi, agora mais primoroso e lapidado, e que pudesse se adequar aos "moldes" do sistema.

Obras foram criadas a partir de seu caráter e devir. Muitas tinham a ver com sentimentos e desiluções amorosas, além de uma libido constante e por vezes censurada. Ralf experimenta possibilidades de gozo, em meio a uma expressão poética que transita desde desenhos a textos, pinturas, fotografias e vídeos. 

Só em 2016, é que o mestre começa a se dar conta de que Ralf precisa voar. Aos poucos, sua identidade vai sendo reestabelecida, mas, ainda como uma tentativa de ser atrelar ao Ego. Este consegue se sobressair na temática homoerótica, uma linguagem de Ralf Nitro, mas que, não vai além, devido a barreiras tanto psicológicas como virtuais. É censurado por plataformas digitais como o Instagram, Tumblr, Patreon e até Vimeo.

Não dava para ser apenas Ego, era preciso libertar o Id. Ralf vem para ficar de vez, e, agora, devidamente, um Nitro. Experimentando plataformas como Xvideos e Pornhub, pela liberdade de expressão de suas obras, sentiu que algo ainda não encaixava. É que as plataformas também possuem suas identidades, como percebe, ao experimentar também o Onlyfans, uma plataforma voltada para corpos padrões. No Buupe, encontrou, enfim, sua morada, uma plataforma simples, mas acessível. 

Hoje, segue difundindo sua marca, esperançoso com os movimentos de exposições e mostras eróticas que vem surgindo cada vez mais, se permitindo e reconhecendo sua natureza como uma linguagem possível.


Gustavo Rodrigues
Artista Visual e Curador



 

* Prática de exibicionismo, em que um homem está despido diante de outros homens. Varia em terminologias, tais como CFNF, CFNM e CMNF, sendo F, no caso, atribuído a Female.

2020-Pandemic

Pandemic, 2020
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